Há 110 anos nascia Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores cronistas e poetas da língua portuguesa. Futebol estava longe de ser o seu principal assunto. Mineiro de Itabira, adotou o Vasco por ter sido o primeiro clube a aceitar jogadores negros. Só acompanhava a seleção brasileira em Copas do Mundo. Mas quando escrevia sobre a bola, brilhava como um Pelé das letras.
Nas Copas do Mundo, o torcedor bissexto Drummond mantinha ao lado um copo de uísque para aplacar a tensão. Os gols do Brasil lhe traziam sorrisos, elogios e alívio. Os gols sofridos, a distância do rádio ou da televisão até que a sorte mudasse. As vitórias eram curtidas da varanda, com a família, observando os vizinhos soltando fogos de artifício e pulando nas ruas enrolados às bandeiras.
O futebol também era pano de fundo para críticas políticas. Como em 1962, quando Drummond propôs que toda a equipe bicampeã mundial substituísse o ministério de João Goulart – Nilton Santos para a Justiça, Didi para as Relações Exteriores e assim por diante. Sua produção sobre o assunto está reunida no livro “Quando é dia de futebol”, lançado em 2002, ano de seu centenário e do pentacampeonato mundial do Japão e na Coreia do Sul. Abaixo, alguns dos “melhores momentos”.
“Não há nada mais triste do que o papel picado, no asfalto, depois de um jogo perdido. São esperanças picadas”.
“Eu sei que futebol é assim mesmo, um dia a gente ganha, outro dia a gente perde, mas por que é que, quando a gente ganha, ninguém se lembra de que futebol é assim mesmo?”
“A partida de futebol é mais disputada por torcedores do que por atletas no campo”.
“Perder é uma forma de aprender. E ganhar, uma forma de se esquecer o que se aprendeu”.
“O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé”.
“O difícil, o extraordinário, não é escrever mil textos, como o Drummond. É escrever um texto como Drummond”. (Pelé, no prefácil de “Quando é dia de futebol”)
Leonardo Filipo (globoesporte.globo.com)
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